domingo, 25 de dezembro de 2011

Ver a árvore para salvar a floresta

Artigo de A. D. McKenzie 03 de dezembro de 2011 O Chêne Saint-Jean, um carvalho de 750 anos localizado perto de Paris. Quando os bombeiros chegaram para apagar o incêndio que devorava a casa de Elise Inversin, na ilha francesa de Córcega, esta mulher de 66 anos preferiu que salvassem uma árvore aroeira de 900 anos. Uma casa pode ser reconstruída, afirmou. Inversin recebeu em Paris o prêmio Árvore do Ano, em nome de sua querida aroeira (Pistgacia lentiscus), que deixou para trás outras 25 na competição que marcou o encerramento do Ano Internacional das Florestas 2011, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Só desejo que a árvore seja reconhecida para que seja protegida pelas próximas gerações. Significa muito para mim e minha família, mas sobreviverá a nós e será responsabilidade da municipalidade protegê-la”, afirmou à IPS. Para o concurso Árvore do Ano, lançado pela revista francesa Terre Sauvagey, do Escritório Nacional de Floresta (ENF), pediu-se ao público que indicasse árvores destacadas por sua beleza, história, biodiversidade e significado para seu entorno. Pessoas e organizações recomendaram centenas de árvores da Alsácia à Martinica. Os eleitores finalmente escolheram 26 exemplares para representarem as diferentes regiões da França. Entre eles, um tejo da Normandia de 1.600 anos e um junípero em expansão e retorcido que cresce a 1.100 metros de altitude nos Alpes. Os organizadores tiveram que “suprimir” votos falsos que buscavam aumentar os números mediante pirataria informática, mas o júri escolheu a aroeira como vencedora. Os jurados também entregaram um “prêmio do público” a um carvalho comum (Quercus robus) de 200 anos e 18 metros de altura da Bretanha. Além disso, os organizadores do concurso deram as boas-vindas a um “convidado de honra”, um carvalho da Palestina (Quercus calliprinos) de mil anos, conhecido como carvalho de Sharafat. Fotografias das árvores premiadas podem ser vistas na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na capital francesa. Contudo, o objetivo não foi fazer um concurso de beleza verde, mas destacar a importância das árvores e o “alarmante” desaparecimento de florestas. Segundo dados da ONU, cerca de 13 milhões de hectares de florestas desaparecem por ano, em particular nas regiões tropicais. O sustento de 1,6 bilhão de pessoas está em perigo, e os 300 milhões que as consideram seu lar podem se transformar em refugiados ambientais. O desmatamento também acelera o aquecimento global ao responder por 20% das emissões de gases-estufa, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A América do Sul perdeu quatro milhões de hectares de florestas anualmente, entre 2000 e 2010, e a África, 3,4 milhões, segundo a FAO. Neste último continente, o processo provocou a redução das chuvas, causando a seca que afeta o leste. A FAO impulsionou vários projetos de reflorestamento para recuperar a fertilidade do solo. Iniciativas semelhantes na Ásia, especialmente na Índia e China, reduziram o ritmo de desmatamento, mas as áreas florestais diminuem 3% ao ano, segundo a ONU. E na Malásia as florestas desaparecem três vezes mais rápido do que a média continental. Na França, as florestas cobrem mais de 30% do território, e a missão do Escritório Nacional de Florestas é protegê-las e fazer o mesmo nos departamentos de ultramar, como a Guiana Francesa, Ilha da Reunião, Martinica e Guadalupe. Não é uma tarefa fácil, disse Hervé Gaymard, presidente do conselho de administração da entidade. “O trabalho de gestão sustentável é muito variado e de amplo espectro porque as florestas da França continental não têm nada em comum, por exemplo, com as da Guiana”, disse à IPS. Este órgão tem um papel ativo “na frente diplomática” para proteger as florestas tropicais e lutar contra o comércio da “madeira preciosa da África”, especialmente na bacia do Rio Congo, acrescentou Gaymard à IPS, lembrando que o desmatamento não é um problema na França. Porém, os exemplares mais antigos estão em risco, segundo ambientalistas. Por exemplo, na floresta de Compiègne, a 50 quilômetros de Paris, há um carvalho de 750 anos, conhecido como Chêne Saint-Jean, com um enorme buraco no meio, ao que parece causado por um incêndio provocado por um grupo de exploradores há alguns anos para se desfazer de um vespeiro. “Fazemos o que podemos, mas é impossível ter um policial ao lado de cada árvore para protegê-la. As árvores costumam ser maltratadas por maldade”, lamentou Gaymard. A proteção das florestas começa ao se ver e respeitar cada árvore, afirmou Inversin. “É preciso ver a árvore para salvar a floresta. Quando disse ao bombeiro para salvar a aroeira, foi uma reação espontânea. Não tive tempo para pensar. Mas sei quantas vidas esse exemplar tocou”, acrescentou. Fonte: Envolverde, adaptado por Painel Florestal

Nenhum comentário: