Educação Ambiental, como explicita Reigota, é política. Para politizarmos a educação é preciso entender a radicalidade democrática necessária à busca pela igualdade social e reconhecimento das diferenças culturais. Para às práxis de educação ambiental, no ambito do ensino formal, a vivência do processo de construção, implementação, efetivação e avaliação contínua do projeto-político pedagógico da escola é vital. Dele pode derivar a construção da Agenda 21, por exemplo, escolar e de inúmeras outras iniciativas.
No encontro sobre Interdisciplinaridade e Educação Ambiental na manhã chuvosa e prazerosa de sábado, tivemos a oportunidade do diálogo inicial acerca de várias questões fundamentais para essa politização e fazeres pedagógicos. Debatemos dois pontos importantes destacados por Paulo Freire: o do ato comprometido só atingido pela capacidade de ação e reflexão; o entendimento da mudança como aspecto contínuo, da realidade não entendida como algo dado, estável e imutável. Esses são pontos que perpassam toda a discussão sobre às práxis de educação ambiental.
Ao problematizarmos a interdisciplinaridade começamos por sua historicidade, ou seja, suas relações com a ciência e educação modernas, como o estreitamento entre currículo e o conhecimento científico. O contexto político, econômico, cultural e social da modernidade européia, das chamadas Revolução Industrial e Revolução Científica, do advento da sociedade capitalista, alicerçam a forma de entendermos e construirmos a superespecialização, fragmentação e a disciplina. O entendimento desses fatores torna a compreensão da interdisciplinaridade mais completa e fundamentada. Inclusive pelos nexos existentes ( e debatidos) sobre a fragmentação , superespecialização e formação da divisão do trabalho na sociedade capitalista.
A Educação Ambiental explicita uma busca de superação da superespecialização e da fragmentação do saber e do conhecer através da interdisciplinaridade. A interdisciplina, pelo próprio nome, necessita da disciplina. Mas essa não pode ser isolada, fragmentada, sem perceber os nexos e a complexidade do real, suas articulações. O ambiente e a educação entendidos em seus aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais são essencialmente interdisciplinares. Uma construção do saber de forma interdisciplinar não é função do indíviduo apenas, mas sim, da articulação e influência mútuas entre indivíduo e sociedade. Na escola o projeto político pedagógico torna-se de suma relevância para o processo democrático e interdisciplinar em busca da Educação Ambiental. Todos construindo seus papéis de sujeitos da história. Estudantes entendidos como pesquisadores. Professores entendidos como pesquisadores. Pesquisadores que buscam articular conhecimentos existentes e construir novos, de forma interconectada, interdisciplinar. Tanto em grupo como individualmente o professor pode contribuir para a construção da interdisciplinaridade. Não apenas em equipe, como a maioria imagina, mas também individualmente. Para conseguir enquanto indivíduo propor atividades interdisciplinares é preciso a formação profunda na disciplina, na sua especialidade. Essa profunda formação revelará os nexos interdisciplinares contidos nas disciplinas,mas, na maioria das vezes, ignorado. O trabalho em equipes também é importante, mas, é uma das formas.
Buscar novos paradigmas, novos modelos, ou seja, a tarefa da educação ambiental, não é facil...Antes de mais nada é necessário. Não há espaço para o medo da busca, mas, do que nos aguarda enquanto sociedade se não atuarmos em prol de novas sociedade possíveis. Sociedades em harmonia. Harmonia dos seres humanos entre si e em relação aos outros seres. Talvez a grande tarefa da educação ambiental seja mostrar a sujeira e não reciclá-la, mas, construir rupturas. Isto só seria possível no processo de diálogo, de politização, da busca pela igualdade, de horizontalização de poder, de novos conhecimentos e sentidos para a existência. Trata-se de novo aprendizado social.
O encontro da manhã de sábado foi delicioso por carregar toda essa necessidade de mudança, entender suas forças opressoras de reprodução do modelo explorador, mas, sobretudo, de que o caráter inacabado, a incompletude do ser nos dá a brecha necessária à educação para outras formas de convívio social, portanto, ambiental...E, acima de tudo, persistir!
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